Na adolescência é normal que tu te
feches um pouco com os teus pais, por um lado queres muito partilhar por outro
achas que não te compreendem. Sou mãe e levou-me muito tempo a perceber como
fazia com um dos meus filhos. Para os pais é complicado aceitar grande parte
dos comportamentos, não porque não vos compreendem, mas porque têm medo que
vocês sofram. Acho que grande parte dos pais gostava de vos poder safar a
qualquer espécie de sofrimento, e no entanto é na adolescência que grande parte
dos pais faz sofrer os filhos. Foi assim comigo! Ui lembro-me tão bem, o meu
pai até me bateu, diz ele a única vez que me bateu, imagina lá o que ele também
não imprimiu nele. Na realidade também sofremos com as vossas coisas e todos
vós sofrem com as coisas dos pais, eu fiz sofrer os meus pais e os meus filhos
já me fizeram sofrer. Andamos todos a tentar perceber como é que isto de educar
se faz.
Não quero desculpar os pais, nem
quero desculpar os adolescentes, as coisas são o que são. Costumo brincar e
dizer que é uma cena de pai/filho, é que adoramos lixar o juízo ao pai e parece
que o pai ao filho. Mas não é, sabes, é apenas que andamos a experimentar como
é ser Pai. Ninguém nasce ensinado e se não tiver emoções muito estáveis, então
é mais complicado. A sociedade criou tanta expectativa nesta profissão de ser
Pai, que cada um dos pais se sente pressionado por ter de dar o melhor, e o
melhor é ter de fazer com que correspondam a uma sociedade. Sei perfeitamente
que isso não é o melhor, mas alguns pais acreditam que é.
Quando estou a falar com os meus
adolescentes digo muitas vezes para relaxarem em relação aos Pais, para lhes
dar uma chance, ou para se tentarem colocar no lugar deles. A cabeça de um Pai
funciona de forma muito diferente, os pais olham muito para o futuro e vêm os vários
cenários possíveis, ou os cenários que conhecem, e se conhecem muitos cenários
maus, é com esses que vão projectar em vós.
O que te posso dizer que te pode
ajudar o teu relacionamento com os teus pais, precisas de encarar a tua relação
como uma oportunidade de melhorares quem és. Não quem são os teus pais. Não
penses em alterá-los, esse é uma tarefa deles. Tal como não queres que te
alterem, tenta não quereres alterá-los. Encara os teus pais como uma
aprendizagem, precisas de aprender a comunicar de determinada maneira. Não
levantes muita onda sobre coisas de futuro, faz o melhor que tu podes, e
acredita tu podes muito mais do que acreditas. Percebe o que precisas de
aprender, a ser resiliente, a partilhar emoções, a não mentir, olha para ti e
define quem tu queres ser, e quem queres ser não é para os chatear.
Uma das minhas adolescentes um dia
disse à mãe que para ser varredora da rua não precisava de estudar. Chumbou
nesse ano. Perguntei-lhe o que gostava de ter como profissão e ela disse-me
algo como bióloga ou algo com animais. Perguntei porque disse à mãe que queria
ser varredora de rua, e ela respondeu “para chatear a minha mãe”.
Sei que queres ser compreendido, mas
se não fores tu a quebrar o ciclo da teimosia e da irritação ninguém o faz.
Tenta falar com o coração, e tenta transmitir quem tu realmente és. Lembra-te
que embora possa não parecer, mesmo que o teu Pai não aceite alguns dos teus
comportamentos, eles nunca te vão deixar de amar. É isso que costumo dizer aos
meus adolescentes, por muito que não concorde com o que fazem, nem com as
decisões deles, porque sou adulta, eu nunca os vou deixar de amar, e estar
triste ou zangada não implica deixar de amar. Aceita que assim é, e que os teus
pais fazem o melhor que sabem naquele instante, mesmo que te pareça o pior que
te estão a dar. Se eles soubessem melhor estariam a dar-te de certo, porque
eles amam-te.