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Dá uma hipótese aos teus pais!



Na adolescência é normal que tu te feches um pouco com os teus pais, por um lado queres muito partilhar por outro achas que não te compreendem. Sou mãe e levou-me muito tempo a perceber como fazia com um dos meus filhos. Para os pais é complicado aceitar grande parte dos comportamentos, não porque não vos compreendem, mas porque têm medo que vocês sofram. Acho que grande parte dos pais gostava de vos poder safar a qualquer espécie de sofrimento, e no entanto é na adolescência que grande parte dos pais faz sofrer os filhos. Foi assim comigo! Ui lembro-me tão bem, o meu pai até me bateu, diz ele a única vez que me bateu, imagina lá o que ele também não imprimiu nele. Na realidade também sofremos com as vossas coisas e todos vós sofrem com as coisas dos pais, eu fiz sofrer os meus pais e os meus filhos já me fizeram sofrer. Andamos todos a tentar perceber como é que isto de educar se faz.

Não quero desculpar os pais, nem quero desculpar os adolescentes, as coisas são o que são. Costumo brincar e dizer que é uma cena de pai/filho, é que adoramos lixar o juízo ao pai e parece que o pai ao filho. Mas não é, sabes, é apenas que andamos a experimentar como é ser Pai. Ninguém nasce ensinado e se não tiver emoções muito estáveis, então é mais complicado. A sociedade criou tanta expectativa nesta profissão de ser Pai, que cada um dos pais se sente pressionado por ter de dar o melhor, e o melhor é ter de fazer com que correspondam a uma sociedade. Sei perfeitamente que isso não é o melhor, mas alguns pais acreditam que é.

Quando estou a falar com os meus adolescentes digo muitas vezes para relaxarem em relação aos Pais, para lhes dar uma chance, ou para se tentarem colocar no lugar deles. A cabeça de um Pai funciona de forma muito diferente, os pais olham muito para o futuro e vêm os vários cenários possíveis, ou os cenários que conhecem, e se conhecem muitos cenários maus, é com esses que vão projectar em vós.

O que te posso dizer que te pode ajudar o teu relacionamento com os teus pais, precisas de encarar a tua relação como uma oportunidade de melhorares quem és. Não quem são os teus pais. Não penses em alterá-los, esse é uma tarefa deles. Tal como não queres que te alterem, tenta não quereres alterá-los. Encara os teus pais como uma aprendizagem, precisas de aprender a comunicar de determinada maneira. Não levantes muita onda sobre coisas de futuro, faz o melhor que tu podes, e acredita tu podes muito mais do que acreditas. Percebe o que precisas de aprender, a ser resiliente, a partilhar emoções, a não mentir, olha para ti e define quem tu queres ser, e quem queres ser não é para os chatear.

Uma das minhas adolescentes um dia disse à mãe que para ser varredora da rua não precisava de estudar. Chumbou nesse ano. Perguntei-lhe o que gostava de ter como profissão e ela disse-me algo como bióloga ou algo com animais. Perguntei porque disse à mãe que queria ser varredora de rua, e ela respondeu “para chatear a minha mãe”.


Sei que queres ser compreendido, mas se não fores tu a quebrar o ciclo da teimosia e da irritação ninguém o faz. Tenta falar com o coração, e tenta transmitir quem tu realmente és. Lembra-te que embora possa não parecer, mesmo que o teu Pai não aceite alguns dos teus comportamentos, eles nunca te vão deixar de amar. É isso que costumo dizer aos meus adolescentes, por muito que não concorde com o que fazem, nem com as decisões deles, porque sou adulta, eu nunca os vou deixar de amar, e estar triste ou zangada não implica deixar de amar. Aceita que assim é, e que os teus pais fazem o melhor que sabem naquele instante, mesmo que te pareça o pior que te estão a dar. Se eles soubessem melhor estariam a dar-te de certo, porque eles amam-te.