Sabes quando era adolescente, o que me chateava
mais era a mania que os meus pais tinham de que sabiam tudo. Não me deixavam
decidir nada. A minha mãe era terrível, até nas pequenas coisas como dar a
minha opinião. Fogo, isso irritava-me consideravelmente. A minha opinião não
era válida, era apenas uma pessoa que iria um dia entender. Odiava aquela frase
"quando cresceres vais entender". Não sabia se era crescer em
idade ou em tamanho. Hoje já me esqueci do que era suposto eu entender.
Mas o que te quero dizer é que os pais têm o seu
papel, mais ou menos castradores, mas tu podes decidir, tens muito para decidir
e deves ir aprendendo a decidir.
Ser livre de decidir tem muita responsabilidade
associada. Quando ouves o teu pai ou mãe a dar a sua opinião ou não te permitir
fazer algo tem como base as crenças deles de que vais passar por algum aperto.
Nenhum pai quer isso, mas também é certo que se tens pais assim tens um desafio
maior. Não faz mal, só tens de ter mais força e decidir mais vezes em como
ultrapassar esse teu desafio. Os teus pais não te vão deixar fazer sempre o que
queres, por vezes não é possível, e tens de aceitar isso. Não lutes contra,
isso só agrava a situação. Não lutar não quer dizer estar de acordo, apenas
aceita que assim é, mas não desistas de tentar decidir e elevar as tuas
decisões para a frente, mas cria as condições para isso.
É muito fácil dizer que a culpa é dos teus
pais, em vez de te responsabilizares pela forma como vives a relação com eles e
a tua vida. Ser adolescente e filho não é fácil. Foda-se, não é mesmo. Lembro-me
de como chorava de tão irritada que ficava e de como tinha uma raiva tremenda
deles, não me percebiam nem me iam perceber. É verdade, por vezes não
percebem, eles não são tu. Lembro-me muito de desejar que não me chateassem e
que preferia que fingissem de conta que não existia. Mas depois queixava-me que
eu não era nada para eles. Era como me dava jeito.
Tomava decisões, tomava decisões à revelia deles.
Comecei a fumar, chegava a casa tarde, a minha mãe nem dava conta. O mais fácil
é mentir, dizer que estamos em determinado sítio e não estar. Controlava a
minha vida com mentiras e quando era apanhada é que eram elas. Mas já não sabia
fazer de outra maneira, parecia mais fácil… não era, corria sempre mal e cada
vez mais os meus pais não me deixavam fazer as coisas que queria.
Acontece a alguns dos meus adolescentes, mentem e
depois entram na espiral da mentira e na espiral da não confiança dos pais.
Não nascemos para sermos certinhos, nascemos para
fazer experiências, e os adolescentes mais ainda, mas os adultos stressam
porque não controlam o vosso bem estar. Faz parte do papel deles.
Agora como superar alguns obstáculos e decidir
por ti, sei que vai ser trabalhoso, mas requer um pouco de mente aberta e de
persistência, sei porque trabalho com adolescentes e sei que é difícil
entender o que te vou dizer, é difícil também para os adultos.
#1. Decide mudar a percepção que tens das coisas e
da realidade. Grande parte da tua realidade é construída na tua mente. O que é
que eu quero dizer com isso, toda a realidade tem várias percepções. Por vezes
vemos um coisa e só vemos a coisa dessa maneira. Sabes quando está a olhar para
um cinzeiro? Há quem olhe e diga que vê um cinzeiro, e outros olham e dizem que
vêem um cinzeiro preto. Isto, quer dizer que optamos por ver um cinzeiro ou um
cinzeiro preto. E ambas as pessoas estão a ver o mesmo cinzeiro, mas um
acrescentou uma outra característica. Nas situações o mesmo se passa. Quando os
pais não nos deixam ir passar a noite fora ou ir para a borga, tu vês como se
eles fossem uns cortes e que nunca te deixam fazer nada, e eles olham para a
parte em que te vais embebedar ou alguém te pode fazer mal. Tu podes dizer que
isso não vai acontecer, mas nem tu nem eles sabem efectivamente o que vai
acontecer, então tenta mudar a tua percepção, podes decidir veres os teus pais
como uns cortes e desmancha prazeres ou serem uns pais preocupados e com
medos. E vais-me agora dizer, "ya e então, não vou sair na mesma!".
Pois não, não sais à primeira, não sais à segunda e vais tentando até
saíres. Aprendes a lidar com a frustração e com o não. Lembro-me de um
adolescente que tive que pedia ao pai para jantar em casa de um amigo, todas as
semanas o pai dizia que não, até que um belo dia sem que o adolescente
esperasse o pai disse que sim. Mas isso não chega.
#2. Decide comunicar e fortalecer os laços entre ti
e os teus pais. Olha se há coisa que eu queria é que a minha mãe me entendesse,
mas assim que eu dizia algo e ela respondia, ou não, eu passava-me da marmita.
Desistia logo de comunicar com eles e refugiava-me furiosa no meu quarto. A tua
decisão prende-se com fazeres o esforço para tentares ganhar a confiança deles
e comunicares mais com eles de forma a que te possam compreender. Decide
partilhar as tuas emoções com eles, e no caso de eles não estarem predispostos
a partilhar, olha para outras possibilidades e decide colocá-las em prática,
podes não conseguir dizer, mas podes escrever, ou podes mostrar um vídeo que
aches importante ou uma noticia ou qualquer coisa. Mostra-lhe a tua
perspectiva, mas não a mostres aos berros e frustrado, aprende a comunicar de
forma assertiva, quero dizer aprende a comunicar de forma a que percebas as
razões dos teus pais e ainda transmitas as tuas necessidades. Percebe quais são
as tuas necessidades e percebe se o que queres é mesmo importante para ti e
porquê. Mas não desistas, sê persistente, a relação constrói-se e tu tens de
aprender a construir relações mesmo nas enormes diferenças que existe entre
mentalidades.
#3. Quando decidires fazer uma merda pela calada,
decide também seres responsável e assumires essa responsabilidade. Quando corre
mal a responsabilidade nunca é dos outros, é sempre tua. Foste tu que
decidiste, por isso és tu que tens de lidar com o resultado da tua decisão,
mesmo sendo negativo. Aprende a pedir desculpa e a assumir que foste tu o
responsável de toda a situação. Não é porque os teus pais são isto ou aquilo
que te dá o direito de mandares as culpas dos teus actos para cima deles. As
merdas da vida são mesmo isso, merdas. Servem para nos ensinar que afinal por
aquele caminho não resulta tens de tentar de outra forma. Não te vou dizer que
mentir é bom, nem mau, terás de ser tu a chegar a essa conclusão. Mas para mim
não me serve, dá-me mais trabalho isso do que dizer a verdade.
#4. Decide dar uma compensação aos teus pais.
Sabes quando os pais querem que tu tires boas notas e isso deixa-os tranquilos?
Quando tiras boas notas negoceias coisas e eles até começam a pressionar menos.
Pois bem, muitas vezes não te empenhas na escola e justificas com um “não sei
porque hei-de fazer, eles nunca vão-me facilitar a vida”. Não tentaste
dar o teu máximo para que eles também deem. Mas mais do que isso, não queres
reconhecer que tu próprio poderias decidir aligeirar as tuas cenas com pequenas
decisões de colaboração, como arrumar o quarto e cenas do género. Por isso,
aceita que vives numa comunidade que é a tua casa e não fazes a tua parte
porque decidiste e assim não terás o que pretendes da tua pequena comunidade
familiar. È uma decisão tua participar e colaborar nas coisas que são da tua
casa, sabendo que se não colaborares a tua vida pode ser pior.
Falei-te aqui em grandes decisões e grandes
esforços, é verdade, pode ser um grande esforço para ti como até pode não ser.
Depende de cada caso, mas se quiseres falar mais sobre as tuas cenas podes
enviar-me uma mensagem. Eu posso-te ir orientando com acções para conseguires
superar determinadas coisas. E quero te dizer que para mudares hábitos, está
provado que tens de agir, não basta conversar e tens de agir durante pelo menos
21 dias. Yap, uma trabalheira, mas olha eu também ajudo adultos e é mais fácil
para ti agora do que para um adulto, e depois já não vais perder tempo com merdas
quando fores adulto.
Deixo-te o meu facebook e email, estás
à vontade para me colocares questões: