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Tu és livre de decidir...

Sabes quando era adolescente, o que me chateava mais era a mania que os meus pais tinham de que sabiam tudo. Não me deixavam decidir nada. A minha mãe era terrível, até nas pequenas coisas como dar a minha opinião. Fogo, isso irritava-me consideravelmente. A minha opinião não era válida, era apenas uma pessoa que iria um dia entender. Odiava aquela frase "quando cresceres vais entender". Não sabia se era crescer em idade ou em tamanho.  Hoje já me esqueci do que era suposto eu entender.

Mas o que te quero dizer é que os pais têm o seu papel, mais ou menos castradores, mas tu podes decidir, tens muito para decidir e deves ir aprendendo a decidir.

Ser livre de decidir tem muita responsabilidade associada. Quando ouves o teu pai ou mãe a dar a sua opinião ou não te permitir fazer algo tem como base as crenças deles de que vais passar por algum aperto. Nenhum pai quer isso, mas também é certo que se tens pais assim tens um desafio maior. Não faz mal, só tens de ter mais força e decidir mais vezes em como ultrapassar esse teu desafio. Os teus pais não te vão deixar fazer sempre o que queres, por vezes não é possível, e tens de aceitar isso. Não lutes contra, isso só agrava a situação. Não lutar não quer dizer estar de acordo, apenas aceita que assim é, mas não desistas de tentar decidir e elevar as tuas decisões para a frente, mas cria as condições para isso.

É muito fácil dizer que a culpa é dos teus pais, em vez de te responsabilizares pela forma como vives a relação com eles e a tua vida. Ser adolescente e filho não é fácil. Foda-se, não é mesmo. Lembro-me de como chorava de tão irritada que ficava e de como tinha uma raiva tremenda deles, não me percebiam nem me iam perceber. É verdade, por vezes não percebem, eles não são tu. Lembro-me muito de desejar que não me chateassem e que preferia que fingissem de conta que não existia. Mas depois queixava-me que eu não era nada para eles. Era como me dava jeito.

Tomava decisões, tomava decisões à revelia deles. Comecei a fumar, chegava a casa tarde, a minha mãe nem dava conta. O mais fácil é mentir, dizer que estamos em determinado sítio e não estar. Controlava a minha vida com mentiras e quando era apanhada é que eram elas. Mas já não sabia fazer de outra maneira, parecia mais fácil… não era, corria sempre mal e cada vez mais os meus pais não me deixavam fazer as coisas que queria.

Acontece a alguns dos meus adolescentes, mentem e depois entram na espiral da mentira e na espiral da não confiança dos pais.

Não nascemos para sermos certinhos, nascemos para fazer experiências, e os adolescentes mais ainda, mas os adultos stressam porque não controlam o vosso bem estar. Faz parte do papel deles.

Agora como superar alguns obstáculos e decidir por ti, sei que vai ser trabalhoso, mas requer um pouco de mente aberta e de persistência, sei porque trabalho com adolescentes e sei que é difícil entender o que te vou dizer, é difícil também para os adultos.

#1. Decide mudar a percepção que tens das coisas e da realidade. Grande parte da tua realidade é construída na tua mente. O que é que eu quero dizer com isso, toda a realidade tem várias percepções. Por vezes vemos um coisa e só vemos a coisa dessa maneira. Sabes quando está a olhar para um cinzeiro? Há quem olhe e diga que vê um cinzeiro, e outros olham e dizem que vêem um cinzeiro preto. Isto, quer dizer que optamos por ver um cinzeiro ou um cinzeiro preto. E ambas as pessoas estão a ver o mesmo cinzeiro, mas um acrescentou uma outra característica. Nas situações o mesmo se passa. Quando os pais não nos deixam ir passar a noite fora ou ir para a borga, tu vês como se eles fossem uns cortes e que nunca te deixam fazer nada, e eles olham para a parte em que te vais embebedar ou alguém te pode fazer mal. Tu podes dizer que isso não vai acontecer, mas nem tu nem eles sabem efectivamente o que vai acontecer, então tenta mudar a tua percepção, podes decidir veres os teus pais como uns cortes e desmancha prazeres ou serem uns pais preocupados e com medos. E vais-me agora dizer, "ya e então, não vou sair na mesma!". Pois não, não sais à primeira, não sais à segunda e vais tentando até saíres. Aprendes a lidar com a frustração e com o não. Lembro-me de um adolescente que tive que pedia ao pai para jantar em casa de um amigo, todas as semanas o pai dizia que não, até que um belo dia sem que o adolescente esperasse o pai disse que sim. Mas isso não chega.

#2. Decide comunicar e fortalecer os laços entre ti e os teus pais. Olha se há coisa que eu queria é que a minha mãe me entendesse, mas assim que eu dizia algo e ela respondia, ou não, eu passava-me da marmita. Desistia logo de comunicar com eles e refugiava-me furiosa no meu quarto. A tua decisão prende-se com fazeres o esforço para tentares ganhar a confiança deles e comunicares mais com eles de forma a que te possam compreender. Decide partilhar as tuas emoções com eles, e no caso de eles não estarem predispostos a partilhar, olha para outras possibilidades e decide colocá-las em prática, podes não conseguir dizer, mas podes escrever, ou podes mostrar um vídeo que aches importante ou uma noticia ou qualquer coisa. Mostra-lhe a tua perspectiva, mas não a mostres aos berros e frustrado, aprende a comunicar de forma assertiva, quero dizer aprende a comunicar de forma a que percebas as razões dos teus pais e ainda transmitas as tuas necessidades. Percebe quais são as tuas necessidades e percebe se o que queres é mesmo importante para ti e porquê. Mas não desistas, sê persistente, a relação constrói-se e tu tens de aprender a construir relações mesmo nas enormes diferenças que existe entre mentalidades.

#3. Quando decidires fazer uma merda pela calada, decide também seres responsável e assumires essa responsabilidade. Quando corre mal a responsabilidade nunca é dos outros, é sempre tua. Foste tu que decidiste, por isso és tu que tens de lidar com o resultado da tua decisão, mesmo sendo negativo. Aprende a pedir desculpa e a assumir que foste tu o responsável de toda a situação. Não é porque os teus pais são isto ou aquilo que te dá o direito de mandares as culpas dos teus actos para cima deles. As merdas da vida são mesmo isso, merdas. Servem para nos ensinar que afinal por aquele caminho não resulta tens de tentar de outra forma. Não te vou dizer que mentir é bom, nem mau, terás de ser tu a chegar a essa conclusão. Mas para mim não me serve, dá-me mais trabalho isso do que dizer a verdade.

 #4. Decide dar uma compensação aos teus pais. Sabes quando os pais querem que tu tires boas notas e isso deixa-os tranquilos? Quando tiras boas notas negoceias coisas e eles até começam a pressionar menos. Pois bem, muitas vezes não te empenhas na escola e justificas com um “não sei porque hei-de fazer, eles nunca vão-me facilitar a vida”. Não tentaste dar o teu máximo para que eles também deem. Mas mais do que isso, não queres reconhecer que tu próprio poderias decidir aligeirar as tuas cenas com pequenas decisões de colaboração, como arrumar o quarto e cenas do género. Por isso, aceita que vives numa comunidade que é a tua casa e não fazes a tua parte porque decidiste e assim não terás o que pretendes da tua pequena comunidade familiar. È uma decisão tua participar e colaborar nas coisas que são da tua casa, sabendo que se não colaborares a tua vida pode ser pior.

Falei-te aqui em grandes decisões e grandes esforços, é verdade, pode ser um grande esforço para ti como até pode não ser. Depende de cada caso, mas se quiseres falar mais sobre as tuas cenas podes enviar-me uma mensagem. Eu posso-te ir orientando com acções para conseguires superar determinadas coisas. E quero te dizer que para mudares hábitos, está provado que tens de agir, não basta conversar e tens de agir durante pelo menos 21 dias. Yap, uma trabalheira, mas olha eu também ajudo adultos e é mais fácil para ti agora do que para um adulto, e depois já não vais perder tempo com merdas quando fores adulto.

Deixo-te o meu facebook e email, estás à vontade para me colocares questões: